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Grupo de Trabalho 6
Desigualdades raciais no ensino superior: A cor da UFBa

 Delcele Mascarenhas Queiroz[1]

 

Introdução[2]

 A relação entre a condição racial[3] e o acesso às oportunidades educacionais, sobretudo no que se refere aos níveis mais elevados do sistema educacional, evidencia-se como um campo de estudos ainda bastante inexplorado (Hasenbalg, 1991). De modo geral, os estudos que trazem referência à questão da desigualdade de oportunidade entre os grupos raciais no acesso ao sistema de ensino superior, o fazem a partir dos dados da Pnad e do Censo (Hasenbalg, 1979; Barcelos, 1992; Queiroz,1997). Os estudos voltados para a análise do caráter seletivo da educação, nesse patamar do sistema de ensino, não têm, contudo, privilegiado a raça como uma variável significativa na explicação das desigualdades aí percebidas (Brito e Carvalho, 1978; Costa Ribeiro, 1988; Bessa, 1990; Santos,1997). O modo como estão representados os segmentos raciais nas diversas áreas e cursos no ensino superior e como ocorre esse trajeto para os diferentes grupos, são questões ainda pouco conhecidas (Castro, 1995; Hasenbalg, 1991). Barroso e Mello (1975), investigando as variáveis que afetam o desempenho dos estudantes no vestibular, chamam atenção para uma gama de fatores que determinam os resultados desse exame, tais como o sexo, o nível socio-econômico da família, o nível educacional dos pais, a vida escolar do candidato e o grau de urbanização do local de residência. Mas a raça não está elencada entre eles. Por outro lado, a ausência de informação, nas instituições de ensino superior, sobre a condição racial do alunado que freqüenta seus cursos, tem contribuído para dificultar o conhecimento da real situação dos grupos raciais nesse espaço privilegiado do sistema educacional.

Na Bahia, torna-se mais relevante o conhecimento da participação dos negros nos vários setores da vida social, pela sua expressiva presença no conjunto da população, pelo significado cultural e político do grupo, em contraste com a situação de profundas desigualdades a que estão submetidos, seja com relação às oportunidades educacionais, seja quanto à inserção no mercado de trabalho, ou mesmo nos demais aspectos da vida cotidiana (Castro e Guimarães, 1993; Silva,1997). Neste sentido, alerta Guimarães (1992:6) : “Numa cidade como Salvador,... a cor da pele mapeia ... a origem social”.

As informações do censo de 1991 confirmam a desigualdade de acesso dos grupos raciais ao sistema de ensino. Embora nos níveis iniciais da escolarização pareça haver uma situação relativamente equilibrada, a distância entre eles vai, no entanto, aumentando à medida da elevação dos níveis de escolaridade, pela eliminação[4] que vão sofrendo os negros. Supondo-se uma escala de cor polarizada por brancos e pretos, essa eliminação é tanto mais radical quanto mais se aproxima dos pretos.

Tem-se buscado argumentar que as condições desfavoráveis a que está submetida a maioria do contingente negro seriam as mesmas que atingem a população pobre em geral, da qual os negros são uma parcela significativa. Segundo essa compreensão, a estrutura “rígida e excludente” da sociedade brasileira atingiria de modo homogêneo a todos os segmentos empobrecidos da sociedade. Estudos têm buscado demonstrar, contudo, que “o racismo... é o determinante primário da posição dos não-brancos nas relações de produção e distribuição”(Hasenbalg, 1979:114); ou seja, a desigualdade racial beneficia os brancos, seja diretamente enquanto capitalistas, através da maior exploração da força de trabalho dos negros, seja porque o racismo e a opressão racial conferem uma vantagem competitiva aos brancos no preenchimento dos lugares sociais que representam as recompensas materiais e simbólicas mais almejadas. Assim, argumenta Hasenbalg:

“os brancos aproveitaram-se e continuam aproveitando-se de melhores possibilidades de mobilidade social e de acesso diferencial a posições mais elevadas nas várias dimensões da estratificação social. Essas dimensões podem ser consideradas como incluindo elementos simbólicos, mas não menos concretos, tais como honra social, tratamento decente equitativo, dignidade e o direito de autodeterminação...; (um) privilégio racial... um fluxo de recompensas que não depende do desempenho competitivo”(idem.).

 Também Gomes (1997) chama a atenção para a posição desvantajosa dos negros, argumentando que a exclusão social se dá “de forma e intensidade distintas para sujeitos de diferentes pertencimentos étnico-raciais”(p.24). No que se refere ao campo educacional, a autora observa que numa análise mais rigorosa de quem são os mais atingidos pelos fenômenos da evasão e repetência, se perceberá que entre eles estão sobretudo os negros. Citando estudo de Barcelos (1993), sobre educação e desigualdades raciais no Brasil, assinala que se para os negros tornou-se mais fácil entrar na escola , “o difícil é sair dela com êxito” (idem.). Evasão e repetência parecem ser a contrapartida da ampliação do acesso do contingente negro à escola.

Na mesma direção vão as conclusões a que cheguei em trabalho anterior (Queiroz,1997). Analisando os dados da Pnad/89 para a Região Metropolitana de Salvador –RMS, constatamos que apesar da expressiva participação dos negros (pardos e pretos), no conjunto da população da Região (em torno de 80%), seu acesso a benefícios sociais tais como educação e trabalho é ainda bastante limitado. Os dados sobre a situação educacional revelam que, com relação à alfabetização, embora o cenário mostre-se, de modo geral, animador para o conjunto da população de dez anos ou mais, no qual 89,7% encontra-se na condição de alfabetizado, essa situação não se apresenta de modo uniforme para todos os segmentos raciais. Enquanto os brancos exibem níveis de alfabetização superiores ao conjunto, os pardos igualam-se à média da população e os pretos estão 8,4 pontos abaixo desta. Os negros representam 89,6% daqueles que deixaram de se alfabetizar entre sete e quatorze anos, idade em que se espera que isso ocorra.

Olhando o desempenho no sistema escolar, expresso na quantidade de anos de estudo alcançados, a partir da condição racial, o que se percebe é que o patamar de nove a onze anos de estudo, número de anos que corresponde ao ensino médio, é atingido por 23,8 % dos negros que ingressam no sistema escolar, enquanto que no caso dos brancos essa cifra se eleva para 31,7%. Quando se observa o patamar de doze anos ou mais de estudo, se percebe a enorme distância que separa brancos e negros no atingimento dos níveis mais elevados do sistema escolar. Enquanto entre os brancos 20,6% conseguem ultrapassar a barreira do curso superior, entre os negros a proporção gira em torno de 4,0%. Esses dados sugerem que é preciso olhar mais atentamente para dentro do sistema superior de ensino no intuito de saber quem usufrui dos seus benefícios, como brancos e negros estão aí representados e de que forma eles participam naquelas áreas consideradas de maior prestígio, quando se sabe que a educação superior é um critério relevante para a alocação dos indivíduos nos espaços sociais mais valorizados[5].

  

Um destaque para a cor

 Objetivando examinar a realidade das desigualdades raciais no ensino superior, elegi a Universidade Federal da Bahia – UFBa. como espaço empírico a ser investigado. Em razão de limitações impostas pelos próprios dados, a investigação restringiu-se ao período compreendido entre 1993 e 1997. Contudo, o trabalho aqui apresentado trata especificamente da análise das informações referentes ao contingente de estudantes que ingressou em 1997, cujo levantamento deveu-se, sobretudo, à necessidade de obter, preliminarmente, alguma informação sobre a raça ou cor dos estudantes, uma vez que a própria instituição, até aquela data, não efetuava a coleta dessa informação.

A invisibilidade de uma característica como a cor, num país com população tão diversa racialmente e num espaço de produção e transmissão de conhecimento sobre a sociedade, como é a instituição universitária, poderia surpreender, não fosse a crença disseminada de que vivemos efetivamente numa “democracia racial”. Isso transforma num fato corriqueiro o silêncio sobre a cor nos mais diversos setores da vida brasileira. Como assinalamos, até 1997 não havia na UFBa. nenhuma referência à condição racial dos alunos, como se esse fosse um aspecto absolutamente irrelevante da realidade brasileira. E isso se passa na cidade mais negra das Américas, no segundo país de maior população negra do mundo, depois da Nigéria, e onde os negros vivem em condições das mais desfavoráveis.

O constrangimento em lidar com a cor está presente em muitos espaços. A UFBa não é, evidentemente, uma exceção. Em outros âmbitos, também acadêmicos, além do distanciamento com relação à questão, os pesquisadores têm, em muitos casos, se deparado com fortes resistências institucionais para investigar acerca das características raciais dos grupos aí presentes. Esse tema está, não raro, cercado de negações, receios, reticências e resistências. A recusa de pensar-se sobre a raça/cor revela-se, com freqüência, como estratégia de dissimulação de conflitos e pode ser, em muitos casos, o preço da inclusão. Os obstáculos enfrentados pelo pesquisador para produzir pesquisas em educação, privilegiando a raça como categoria de análise, são também denunciados por Gomes (op.cit.), quando observa:

“E é bom que registremos alguns deles (obstáculos), pois nos mostram como é difícil manter um grupo[6], dentro da Universidade, que privilegia a questão racial como tema de pesquisa. Estes obstáculos tornam-se também desafios: a desconsideração por parte de muitos professores e pesquisadores de que a raça não pode ser considerada como uma categoria de análise, a escassez de bibliografia específica nas diversas áreas, (...) o olhar equivocado de alguns militantes do Movimento Negro sobre a legitimidade do pesquisador negro dentro da Universidade, que elege a questão racial como seu tema de estudos (p.27).

 

Quem são os estudantes que ingressaram na UFBa em 1997?

 Nesta etapa do trabalho apresentarei os resultados da análise das informações obtidas a partir da aplicação de um questionário entre os 3.600 novos estudantes que a UFBa recebeu em 1997, durante o período da matrícula para o primeiro semestre daquele ano letivo[7]. Dos 3.288 questionários distribuídos, 91,3% foram respondidos, volume de respostas que considero bastante satisfatório. O instrumento constituiu-se de vinte e seis perguntas sobre as características pessoais do estudante, sobre a escolarização anterior, escolaridade e ocupação dos pais, razões da escolha do curso, entre outros aspectos.

A distribuição por gênero evidenciou que homens (50,4%) e mulheres (49,6%) estão quase que igualmente representados nesse espaço, embora com uma leve predominância masculina.

No que se refere à cor ou raça o questionário apresentou dois itens de identificação. O primeiro, aberto, como o fez a Pnad 1976, permitiu ao respondente utilizar o termo que desejasse para identificar sua raça ou cor. O segundo, utilizou um procedimento de auto-classificação induzida, cujas categorias pré-codificadas eram: branca, parda, preta, amarela e indígena[8]. Estas serão as categorias de cor/raça que será cruzada com as demais características do grupo aqui investigado.

A decisão de utilizar dois procedimentos distintos de identificação racial decorreu do debate existente entre os estudiosos das relações raciais brasileiras a respeito dos sistemas de classificação racial praticados no Brasil. Para uma parcela deles (entre outros, Harris e Kotak, 1963), as categorias do IBGE obscurecem justamente aquilo que há de mais característico nas relações raciais brasileiras, isto é, a grande quantidade de termos utilizados pela população e a ambigüidade que envolve a sua aplicação. Sensível a esse argumento, em 1976 o próprio IBGE buscou um modo de verificar em que medida as categorias do censo se distanciavam da terminologia usada no cotidiano, introduzindo no seu levantamento uma questão aberta, que permitia ao informante definir sua condição racial usando os termos do seu cotidiano. O resultado do levantamento deu conta de mais de uma centena de termos apresentados espontaneamente pelos informantes, mas mostrou que 57% deles poderiam ser enquadrados nas categorias censitárias. As demais respostas se distribuíram entre as categorias “morena” 34%, “morena clara” 3% e “clara” 3%. Isso evidenciou que mesmo que as categorias censitárias limitassem a riqueza de termos raciais usados pela população e eliminassem seu caráter ambíguo, elas estariam conseguindo expressar o modo como a maior parte dos brasileiros se percebe racialmente (Silva, 1994). Com base nessas conclusões considerei pertinente o uso das categorias censitárias nesse trabalho.

A investigação da cor mostrou que, com relação às respostas à questão fechada[9], 50,8% dos estudantes se declararam brancos, 34,6% pardos, 8% pretos, 2,9% amarelos e 3,0% indígenas. Isto significa que os negros (pardos e pretos), representam 42,6% daqueles que ingressaram na UFBa em 1997. Poderia parecer um avanço que os estudantes negros, com toda sua história de exclusão, estivessem ingressando no ensino superior numa proporção apenas 8,2 pontos percentuais abaixo do contingente branco, não fossem estes apenas 20% da população do Estado[10] e 21% da população da RMS (tabela 1).

Tabela 1 – Estudantes da UFBa., população da RMS e população do estado segundo a cor
(UFBa.1997, RMS 1997, Bahia 1991)

Cor

UFBa*.

RMS**

Bahia***

Branca

50,8

21,0

20,2

Preta

8,0

19,9

10,1

Parda

34,6

58,5

69,1

Amarela

3,0

0,4

0,1

Indígena

3,6

0,2

0,1

Total

100,0

100,0

100,0

Fonte: * Pesquisa direta;** IBGE/PNAD;*** IBGE/Censo Demográfico.

 A resposta à questão aberta, na qual o aluno poderia designar livremente a sua cor, revelou vinte e quatro termos: branco, moreno, claro, moreno claro, moreno pardo, moreno escuro, moreno médio, branco brasileiro, amarelo, indígena, caboclo, misto, castanho, pardo, pardo claro, mulato, mulato claro, mulato médio, escuro, mestiço, marrom, mulato escuro, preto, negro. A metade do contingente (50,1%), se auto-designou branco, 7,9% como preto ou negro, como pardos 20,1% e como morenos 13,0%. No caso dos brancos os resultados quase que coincidem, sendo muito reduzida a diferença entre as duas classificações (50,1% e 50,8%). A proporção dos que se declararam pretos ou negros na questão aberta é quase a mesma que se declarou preto na questão fechada (7,9% e 8,0%). No caso dos pretos pode-se pensar que nesse grupo esteja presente uma maior compreensão do significado das relações raciais na realidade brasileira e também uma atitude de afirmação da própria identidade racial. No caso dos morenos é possível que aqueles que assim se definiram na questão aberta tenham se classificado como pardos na questão fechada, quando não havia a opção moreno, indicando talvez uma tendência ao branqueamento em situações em que as pessoas podem nomear livremente a sua cor. Embora o termo pardo seja frequentemente questionado a partir do argumento de que essa não é uma categoria de uso cotidiano, é interessante observar que a proporção dos que se classificaram espontaneamente como pardo ou pardo claro foi mais alta do que os que se classificaram como moreno: 20,1% e 13,0%, respectivamente (tabela 2).

Assim como se verificou na pesquisa do IBGE, também neste levantamento se percebe uma aproximação entre os resultados da auto-classificação espontânea e da auto-classificação induzida, reforçando a interpretação de que as categorias censitárias, de certo modo, conseguem abranger a diversidade de termos de cor que aparecem no cotidiano dos brasileiros e justificando, plenamente, o seu uso.

Tabela 2 – Estudantes por cor, segundo a auto-classificação espontânea[11] -UFBa. 1997>

Cor

%

Branca

50,1

Parda

20,1

Morena

13,0

Preta

 7,9

Outras designações

 5,3

Sem declaração

 3,6

Total

100,0

Fonte: Pesquisa direta.

 Observando a distribuição por gênero nos grupos raciais, os homens são maioria entre os brancos (52%), os pretos (51,8%) e os indígenas (50,4%). As mulheres são maioria no grupo pardo (51,7%) e no amarelo (58,3%) ( tabela 3).

Tabela 3 – Estudantes por cor segundo o gênero - UFBa. 1997

Cor

Homem

Mulher

Total

Branco

52,0

48,0

100,0

Pardo

48,3

51,7

100,0

Preto

51,8

48,2

100,0

Amarelo

41,7

58,3

100,0

Indígena

50,4

49,6

100,0

Fonte: Pesquisa direta.

Pais e mães exibem perfis de instrução muito similares, sobretudo quando se trata dos níveis mais elementares. As mães estão melhor representadas quando se observa os níveis mais elevados. Os dados mostram que mais de dois terços do grupo vêm de famílias cujos pais são portadores de uma instrução de, pelo menos, segundo grau completo, indicando ainda que uma parcela bastante significativa ultrapassou este patamar de instrução, atingindo o nível superior (tabela 4)

Tabela 4 – Nível de instrução dos pais - UFBa. 1997

Instrução

Pai

Mãe

Sem instrução ou com até 1° grau incompleto

13,0

12,1

1° grau completo

9,7

8,0

2° grau incompleto

6,5

5,2

2° grau completo

24,5

34,1

Superior incompleto

6,7

6,1

Superior completo

35,9

32,6

Não declarou

3,7

1,9

Total

100,0

100,0

Fonte: Pesquisa direta

A observação do nível de instrução dos pais por cor revela que brancos e negros estão em posições inversas quando se trata desse aspecto. Enquanto os brancos estão fortemente representados entre aqueles cujos pais são portadores de uma escolaridade de nível superior, mesmo que incompleta, os negros são maioria entre aqueles cujos pais são sem instrução ou deixaram de estudar antes de completar o primeiro grau. Para cada branco cujo pai é sem instrução ou não completou o primeiro grau, existem em torno de três pretos; ao contrário, para cada preto cujo pai atingiu uma escolaridade superior, existem mais de dois brancos (tabela 5).

Tabela 5 – Instrução do pai segundo a cor do estudante - UFBa. 1997

Instrução

Branco

Pardo

Preto

Outros

1° Grau inc.

  8,2

 16,2

 27,6

 12,5

1° Grau comp.

  8,6

 11,0

 12,5

  8,2

2° Grau inc.

  5,6

  7,2

  9,3

  6,4

2° Grau comp.

 21,2

 28,6

 23,3

 27,5

3° Grau inc.

  7,7

  6,4

  2,7

  5,7

3° Grau comp.

 46,0

 28,2

 19,9

 45,0

Não declarou

  2,7

  3,3

  4,7

 10,7

Total

100.0

100,0

100,0

100,0

Fonte: Pesquisa direta

O nível de instrução assim como a natureza da ocupação dos pais têm sido apontados como importantes variáveis explicativas da realização educacional dos filhos (Bourdieu e Passeron, 1973; Hasenbalg, 1979), o que sinaliza para as desvantagens a que está sujeito o contingente negro. Contudo, a reduzida representatividade dos negros entre aqueles cujos pais atingiram patamares elevados de instrução, se por um lado confirma a realidade da desigualdade existente entre brancos e negros, com prejuízo para estes, por outro sinaliza uma mudança na situação do grupo negro, no sentido da elevação dos seus níveis de escolaridade, em tempos mais recentes. Outros estudos têm chamado atenção para esse fenômeno. Hasenbalg (op. cit.) chama atenção para uma mudança no padrão de instrução da população negra a partir de 1950. Investigando a situação de alfabetização da força de trabalho baiana no período 1950/1980, Picanço e Hita (1987) apontam para uma mudança no padrão de alfabetização do segmento de mulheres negras, indicando uma melhoria no período. Seguindo a trilha destes autores buscamos investigar, em estudo anteriormente citado, um grupo de mulheres negras ocupadas num espaço do mercado de trabalho da Região Metropolitana de Salvador e constatamos também aí uma elevação do patamar de escolaridade do grupo, quando comparado às gerações anteriores. A maioria das mulheres do grupo investigado contava com uma escolaridade de até onze anos de estudo, enquanto seus pais e avós, de modo geral, eram analfabetos ou não tinham completado o curso primário (Queiroz, op. cit.). Os dados da presente investigação indicam que essa pode ser uma tendência para todo o grupo negro. É possível pensar que as transformações ocorridas na economia baiana a partir dos anos 50, no sentido da mudança do perfil da sua industrialização e suas conseqüências sobre a urbanização, tenham influenciado na modificação do padrão de escolaridade da população, e que esse fenômeno seja mais visível entre os negros, por ser o contingente portador das maiores desvantagens.

Mais de um quarto dos estudantes (25,6) têm pais administradores, profissionais liberais e professores universitários. Os brancos estão sempre melhor representados no grupo cujos pais estão nas ocupações mais prestigiadas. No grupo de pais cujas ocupações são aquelas que estão nos níveis inferiores da estrutura ocupacional, os negros são maioria. Do elenco de ocupações desempenhadas pelos pais dos estudantes selecionei algumas, de elevado prestígio e outras de baixo prestígio, para efeito de comparação dos grupos raciais. Isso mostrou que 70,1% dos estudantes que declararam ter pais administradores, são brancos; do mesmo modo, 66,8 % daqueles que declararam ter pais em profissões liberais. No grupo cujos pais são trabalhadores da indústria da construção civil, 62,4% são pardos e 18,8% pretos. Pardos e pretos também comparecem de modo expressivo no grupo cujos pais são trabalhadores da indústria têxtil ou trabalhadores diversos não qualificados (tabela 6). Esses dados indicam que os negros estão sistematicamente em desvantagem; seja no que diz respeito ao acesso à instrução, seja no que se refere aos lugares ocupados na estrutura de ocupações.

Tabela 6 – Ocupação do pai segundo a cor do estudante - UFBa. 1997

Ocupação

Branca

Parda

Preta

Outras

Total

Administradores

70,1

20,6

 3,1

 6,2

100,0

Profissionais Liberais

66,8

23,2

 3,3

 6,7

100,0

Trab. Diversos ñ Qualificados

43,4

37,4

13,5

 5,7

100,0

Trab. Indústria da Construção

18,8

62,4

18,8

 ##

100,0

Trab. Da Indústria Têxtil

16,7

49,9

16,7

16,7

100,0

 Fonte: Pesquisa direta

A observação da posição ocupada nos domicílios evidencia que, como era de se esperar, a maioria (78,3%) dos que compõem este contingente está na condição de filho. Em seguida estão os demais membro da família, como parentes (7,1%), chefes da família (5,2%) ou cônjuges (3,5%), sendo pouco numerosos (5,9%) os que estão em outra condição, como agregados, empregados ou outros (tabela 7).

Tabela 7 – Estudantes por posição do domicílio - UFBa. 1997

Posição

%

Chefe

  5,2

Cônjuge

  3,5

Filho

 78,3

Parente

  7,1

Outros

  5,9

Total

100,0

Fonte: Pesquisa direta

A observação da posição na residência por gênero revela, como era também previsível, quase um equilíbrio entre homens e mulheres na condição de filho. Há nesse subconjunto uma leve predominância masculina, seguindo o padrão de distribuição de universo investigado. Os homens detêm, contudo, uma maioria expressiva (77,6%), quando se olha para a condição de chefe de família. Ao contrário, as mulheres estão melhor representadas (75%) na condição de cônjuge (tabela 8)

Tabela 8 – Estudantes por posição no domicilio segundo o gênero - UFBa. 1997

Posição

Homem

Mulher

Total

Chefe

77,6

22,4

100,0

Cônjuge

24,3

75,7

100,0

Filho

50,6

49,4

100,0

Fonte: Pesquisa Direta

É interessante observar que entre aqueles que aparecem na condição de filho os brancos estão melhor representados (50,7%) que os negros (41,4%), mas quando se focaliza a condição de chefe de família, ambos os contingentes raciais estão igualmente representados. Essa “igualdade” chama atenção por se tratar de um contexto em que os negros estão minoritariamente representados. Deste modo, é possível pensar que aquilo que aparece como uma posição igualitária entre os dois grupos esteja, na verdade, expressando uma desvantagem para os negros. Ou seja, aparecer na mesma medida que os brancos na condição de chefe de família pode estar refletindo, muito mais do que para estes, o ingresso tardio na universidade (tabela 9).

Tabela 9 – Estudantes por posição no domicílio segundo a cor - UFBa. 1997

Posição

Branco

Pardo

Preto

Outros

Total

Chefes

48,2

37,6

10,6

3,6

100,0

Cônjuge

58,1

37,4

4,3

5,2

100,0

Filho

50,8

33,1

8,2

7,9

100,0

Fonte: Pesquisa Direta.

A quase totalidade do grupo estudou durante o primeiro grau apenas no turno diurno (97,1%). Apenas quatorze estudantes declararam ter cursado esse grau de ensino no período noturno e 1,6% iniciaram seus estudos no turno diurno, mudando posteriormente para o noturno.

O número daqueles que declararam ter estudado apenas no período diurno é menor durante o segundo grau. Mas, ainda assim, aqueles que freqüentaram a escola noturna durante esse grau de ensino, embora significativamente maior que no primeiro grau (11,0%), seguem sendo uma parcela muito reduzida, e devem tê-lo feito pela necessidade de ingressar mais cedo no mercado de trabalho. O número relativamente reduzido dos que freqüentaram o segundo grau noturno, neste conjunto, em relação à população que freqüenta esse grau de ensino nas escolas brasileiras, deve-se, seguramente, a uma menor heterogeneidade na composição socio-econômica da população que ingressa no ensino superior. Neste caso, mais que isso, estamos provavelmente frente a um grupo privilegiado, isto é, aqueles que podem se permitir freqüentar uma universidade de funcionamento diurno. Mas em que pesem todas essas considerações, e mesmo não sendo elevado o número dos que vieram dos cursos noturnos, percebe-se que eles estão mais representados entre os negros (tabela 10).

Tabela 10 – Estudantes por turno freqüentado no 1° e no 2 graus segundo a cor
UFBa. 1997

Turno

Primeiro Grau

Segundo Grau

 

Branco

Pardo

Preto

Branco

Pardo

Preto

Diurno

 97,9

 96,6

 96,5

 89,0

 79,3

 75,5

Noturno

  0,2

  0,6

   ##

 2,4

  4,6

  5,4

Diurno/noturno

  1,1

  2,2

  1,9

 7,5

 15,0

 17,5

Noturno/diurno

  0,1

  ##

   ##

 0,5

  0,7

  0,4

N/declarou

  0,7

  0,6

  1,6

 0,2

  0,4

  1,2

Total

100,0

100,0

 100,0

100,0

100,0

100,0

Fonte: Pesquisa diretaA associação entre a condição de estudante e de trabalhador indica que, em todos os segmentos raciais, era muito pouco significativa a parcela daqueles que trabalhavam durante a realização do primeiro grau. No segundo grau, somente 13% do universo investigado trabalhavam, cifra que quase coincide com os 11% que freqüentaram a escola de segundo grau no período noturno. Aqui também parece ser válido o comentário anterior. Este é, provavelmente, um segmento cujas condições mais favoráveis de vida permitiram cumprir a escolarização anterior em situação que lhe permitisse enfrentar, com êxito, a competição por uma vaga no ensino superior numa universidade de elevada concorrência, condição acessível, no caso do Brasil, apenas a uma parcela bastante reduzida da população, como mostram diversos estudos (Maggie, s.d.; Santos, 1997; Bessa, 1990; Ribeiro, 1981, 1983 e 1988; Brito e Carvalho,1978; Moura Castro e Ribeiro,1979; Schwartzman, 1989). Maggie (s/d.: 3)[12] avalia a medida dessa seletividade observando que “na verdade não há propriamente ricos e pobres na universidade, porque para ingressar no sistema universitário é preciso já ter um certo nível de renda, um capital cultural”. Para a autora, o aumento das vagas que permitiu o acesso de um maior contingente de mulheres negros e estudantes das periferias ao ensino superior, revela, contudo, “um sistema que quanto mais muda, mais permanece o mesmo” (Maggie, s/d:3). Isso parece aplicar-se também à UFBa. Sendo uma universidade predominantemente diurna, já exclui do seu âmbito uma considerável parcela dos estudantes que não poderão abrir mão do trabalho durante a realização do curso. Mesmo se considerarmos que é reduzida a presença daqueles que associaram trabalho e estudo na sua trajetória escolar anterior, ao observar o fenômeno considerando a condição racial, percebe-se que a desvantagem atinge sobretudo os pretos e pardos. Assim, para cada dez estudantes brancos que associaram estudo e trabalho na sua trajetória no segundo grau, são encontrados dezessete negros (tabela 11).

 Tabela 11 - Associação entre a condição de estudante e de trabalhador durante o 1° e o 2° graus, segundo a cor - UFBa. 1997

Trabalho/escola

Branco

Pardo

Preto

Trabalhou durante o 1° Grau

  0,7

  1,1

  0,4

Trabalhou durante o 2° Grau

 10,8

 15,9

 18,3

Trabalhou durante o 1° e 2° Graus

  1,3

  3,3

  6,2

Não Trabalhou durante a escolarização

 86,7

 79,6

 73,9

Não Declarou

  0,5

  0,2

  1,2

Total

100,0

100,0

100,0

Fonte: pesquisa direta.

 Quanto ao tipo de estabelecimento de ensino freqüentado durante o primeiro grau, a maioria cumpriu esse grau de ensino na escola privada. Mais de dois terços (67%) são provenientes desse tipo de escola; em torno de um em cada dez, em algum momento da escolarização de primeiro grau, freqüentou um estabelecimento dessa natureza, enquanto cerca de 22% cumpriram sua trajetória escolar durante o primeiro grau na escola pública.

Assim como no primeiro grau, a maioria fez seus estudos durante o segundo grau na escola privada. Apenas 28,8% freqüentaram a escola pública durante o segundo grau. Observa-se, no entanto, um aumento do número daqueles que freqüentaram a pública, durante esse grau de ensino. A esse respeito pode-se supor que a tendência à precarização da situação das famílias em decorrência do aprofundamento da crise econômica que afeta o país e das mudanças na estrutura do mercado de trabalho, com o conseqüente aumento do desemprego, tenha provocado uma busca pela escola pública, em tempos mais recentes, por muitos daqueles que fizeram seus estudos de primeiro grau na escola privada. Também como no primeiro grau, quando se compara a situação dos brancos com a dos pardos e pretos, percebe-se que a desvantagem está com estes (tabela 12).

 Tabela 12 – Natureza do estabelecimento de ensino freqüentado durante o 1° e o 2° Graus, segundo a cor - UFBa. 1997

Estabelecimento

           1° Grau

           2° Grau

 

Branco

Pardo

Preto

Branco

Pardo

Preto

Público

 13,1

 26,5

 35,4

 17,2

 36,9

 44,0

Privado

 78,1

 58,7

 52,1

 78,6

 56,4

 47,0

Privado depois Público

  3,7

  7,9

  6,6

  2,1

  3,7

  3,9

Público depois Privado

  4,6

  5,5

  5,1

  1,8

  2,6

  3,9

Não Declarou

  0,5

  0,4

  0,8

  0,3

  0,4

  1,2

Total

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

100,0

Fonte: Pesquisa direta.

 A tabela 16 mostra que, dos alunos que ingressaram na UFBa. em 1997, menos de um terço concluíram o ensino básico no ano imediatamente anterior. Assim, é elevado o número daqueles que concluíram os estudos em anos anteriores a 1996 e são os negros a maioria deles. A esse respeito pode-se pensar que as desvantagens que este contingente vem acumulando, ao longo da trajetória escolar básica, pesem no momento desta seleção, seja por ter freqüentando escolas mais precárias, seja porque dispusesse de um tempo mais reduzido de preparação, por ter que associar estudo e trabalho, seja porque os efeitos da discriminação e do preconceito atuaram reduzindo ou adiando suas aspirações. A esse respeito, Hasenbalg (1979), assinala que Além dos efeitos diretos do comportamento discriminatório, uma organização racista limita também a motivação e o nível de aspirações dos não-brancos. Quando são considerados os mecanismos sociais que obstruem a mobilidade ascendente das pessoas de cor, às práticas discriminatórias dos brancos – sejam elas abertas ou polidamente sutis – devem ser acrescentados os efeitos de bloqueio resultantes da internalização pela maioria dos não-brancos de uma auto-imagem desfavorável. A forma complexa como esses dois mecanismos funcionam e se reforçam mutuamente leva normalmente negros e mulatos a regularem suas aspirações de acordo com o que é culturalmente imposto e definido como o “lugar apropriado” para as pessoas de cor (199).Tabela 13 – Estudantes por ano de conclusão do curso de 2° grau segundo a cor - UFBa. 1997

Ano

Branca

Parda

Preta

1996

 38,4

 27,5

 21,4

1995

 23,8

 25,4

 24,1

1994

 12,0

 12,0

 13,6

Anos anteriores

 25,8

 35,1

 40,9

Total

100,0

100,0

100,0

Fonte: Pesquisa direta

Um em cada três estudantes que ingressaram na UFBa. em 1997 estava prestando vestibular pela primeira vez. Entre os demais, 36,1% haviam prestado vestibular uma vez antes, 16,6% já haviam prestado duas vezes e 13,8 já haviam prestado mais de duas vezes. Naquele grupo que prestou vestibular pela primeira vez, 54,6% são brancos, 34,4% são pardos e 6,1% são pretos. Observa-se uma redução da proporção de brancos e um crescimento da proporção de negros entre aqueles que prestaram vestibular até duas vezes antes, indicando que os negros experimentam maior número de insucessos que os brancos na sua tentativa de ingressar na UFBa. Contudo, é curioso observar que quando as tentativas anteriores excedem a duas, volta a crescer o número de brancos e a reduzir-se o número de negros, o que poderia sugerir que os negros são levados a desistir antes dos brancos nas suas tentativas, por razões como a necessidade de buscar mais cedo uma ocupação ou por “desalento” (tabela 14).

Tabela 14 – Estudantes segundo o número de vezes que prestaram vestibular - UFBa. 1997

Vestibulares

Branca

Parda

Preta

Outras

Total

Nenhuma vez antes

54,6

34,4

 6.1

 7,9

100,0

1 c/ mesmas opções

47,7

34,2

 7,9

 10,2

100,0

1 c/ outras opções

47,5

34,4

 9,0

  9,1

100,0

2 c/ mesmas opções

43,5

36,1

11,6

 8,8

100,0

2 c/ outras opções

44,0

38,2

 9,0

 8,8

100.0

Três vezes

52,2

35,0

 6,9

 5,9

100,0

Mais de três vezes

50,0

34,4

 8,0

 7,6

100,0

Fonte: Pesquisa direta

 

Escolha da carreira, raça e gênero

A escolha ou a “restrição da escolha” da carreira está orientada pela procedência social dos indivíduos; o grupo racial a que pertence o estudante e sua condição de gênero terão, assim, um importante papel definidor no tipo de carreira por ele escolhida, como se verá mais adiante. Assinalam Bourdieu e Passeron (1973) que, ainda que não sejam conscientemente percebidas pelos interessados, as distintas possibilidades de acesso à carreira se refletem na percepção cotidiana daquilo que é imaginado como “possível”, “impossível” ou “normal”, para cada grupo social. Analisando atitudes dos membros das diferentes camadas sociais frente às escolhas da carreira escolar, Bourdieu (1998) mostra como a estrutura de oportunidades à disposição dos sujeitos condiciona essas escolhas; escreve ele: “Até mesmo quando suas escolhas lhes parecem obedecer à inspiração irredutível do gosto ou da vocação, elas traem a ação transfiguradora das condições objetivas” (49).

Na UFBa., a área de maior concentração de estudantes é a de Filosofia e Ciências Humanas, onde estão 35,2% daqueles estudantes que ingressaram em 97. Em seguida estão as áreas de Matemática, Ciências Físicas e Tecnologia e Ciências Biológicas e Profissões de Saúde que concentram em torno de um quarto dos estudantes cada uma delas. Letras e Artes são áreas de baixa concentração (tabela 15).

Tabela 15 –Estudantes por área de formação do ensino superior
UFBa. 1997

Área

%

Mat. Ciências Físicas e Tecnologia

26,9

Ciências Biológicas e Profissões de Saúde

25,1

Filosofia e Ciências Humanas

35,2

Letras

5,0

Artes

7,8

Total

100,0

Fonte: Pesquisa Direta

Enquanto os brancos estão expressivamente representados em áreas onde estão os cursos de mais alto prestígio como a de Ciências Biológicas e Profissões de Saúde (54,0%) e a de Matemática, Ciências Físicas de Tecnologia (48,0%), os pardos e pretos estão mais presentes (45,4% e 15,4%) na área de Letras, considerada de menor prestígio, e onde a concorrência por vagas (5,4) é relativamente baixa (tabela 18). Segundo Maggie, (s./d.) os cursos de Letras e de Pedagogia aparecem no relatório de avaliação da CAPES de 1995, como sendo os de menor eficiência na formação e aqueles que desde 1979 não conseguem modificar sua posição na hierarquia das carreiras (tabela 16).

Tabela 16 – Estudantes por área segundo a cor
UFBa. 1997

Área

Branca

Parda

Preta

Outras

Total

Mat. Ciências Físicas e Tecnologia

48,0

32,7

 8,3

11,0

100,0

Ciências Biol. E Prof. de Saúde

54,0

32,3

 5,2

 8,5

100,0

Filosofia e Ciências Humanas

51,5

33,7

 7,9

 6,9

100,0

Letras

32,2

45,0

15,4

 7,4

100,0

Artes

46,4

37,4

 8,2

 8,0

100,0

Fonte: Pesquisa direta.

Como era de se supor, além dos negros estarem menos representados do que os brancos nas áreas mais prestigiadas do ensino superior, dentro de cada área também há uma participação diferenciada por curso. Desse modo, é também dos brancos a maior participação nos cursos reconhecidos socialmente como de mais alto prestígio[13] de cada área. Em contrapartida, a presença dos negros é mais numerosa naqueles cursos de médio ou baixo prestígio. Assim, na área de Matemática, Ciências Físicas e Tecnologia, a presença dos brancos é maior nos cursos de Geofísica, Arquitetura, Ciência da Computação, Engenharia Elétrica, Engenharia Civil, Engenharia Química e Engenharia Mecânica, enquanto os negros estão, em maior proporção nos cursos de Química Industrial, Química[14], Estatística, Engenharia de Minas, Matemática, Física. Na área de Filosofia e Ciências Humanas os brancos estão mais presentes nos cursos de Administração, Direito, Psicologia, Jornalismo, Ciências Econômicas, Educação Física e Secretariado; os negros estão mais concentrados nos cursos de Biblioteconomia, Ciências Contábeis, Pedagogia e Geografia. Na área de Ciências Biológicas e Profissões da Saúde os brancos estão mais presentes nos cursos de Medicina, Odontologia, Agronomia, Medicina Veterinária e Farmácia; o único curso desta área em que os negros têm maior representatividade que os brancos é o de Licenciatura em Ciências do 1o Grau, um dos cursos de mais baixo prestígio, não apenas na sua área, como em todo o elenco de cursos oferecidos pela UFBa. (tabelas 17 e 18).

Tabela 17– Cursos em que 50%, ou mais, dos estudantes definiram-se como brancos
UFBa. 1997

Curso

Branca

Parda

Preta

Amarela

Indígena

N/D

Total

Desenho Industrial

75,0

25,0

 ##

##

##

##

100,0

Geofísica

72,3

27,7

 ##

##

##

##

100,0

Administração

68,5

23,3

 3,4

0,7

2,1

2,0

100,0

Arquitetura

67,5

21,7

 2,5

3,3

3,3

1,7

100,0

Direito

66,8

25,5

 4,3

##

1,8

1,8

100,0

Medicina

65,4

28,2

 1,9

1,3

1,9

1,3

100,0

Decoração

63,2

36,8

 ##

##

##

##

100,0

Odontologia

59,1

30,9

 1,8

3,6

2,7

1,9

100,0

Ciência da Computação

58,7

23,8

 7,9

6,3

1,6

1,6

100,0

Engenharia Elétrica

57,6

23,7

10,2

3,4

5,1

0,0

100,0

Psicologia

55,4

28,4

 9,5

2,7

1,4

2,6

100,0

Engenharia Civil

55,3

34,0

 3,3

4,0

2,0 

1,4

100,0

Agronomia

54,9

31,7

 6,1

2,4

4,9

0,0

100,0

Medicina Veterinária

54,5

31,8

 2,3

4,5

5,7

1,2

100,0

Jornalismo

54,4

27,8

 5,1

1,3

8,9

2,5

100,0

Engenharia Química

53,7

31,5

 5,6

1,9

5,6

1,7

100,0

Ciências Econômicas

51,7

35,6

 8,0

1,1

3,6

##

100,0

Educação Física

51,4

35,1

 8,1

2,7

0,0

2,7

100,0

Secretariado

50,7

39,4

 2,8

1,4

2,8

2,8

100,0

Farmácia

50,4

33,6

 4,4

5,3

5,3

1,0

100,0

Engenharia Mecânica 50,0 26,9 9,6 1,9 7,7 3,9 100,0
História 50,0 28,3 17,4 ## 4,3 ## 100,0
Composição e Regência 50,0 50,0 ## ## ## ## 100,0
Canto 50,0 50,0 ## ## ## ## 100,0

Direção Teatral

50,0

50,0

##

##

##

##

100,0

Fonte: Pesquisa direta

Tabela 18 – Cursos em que 50%, ou mais, dos estudantes definiram-se como pardos e pretos - UFBa. 1997

Curso

1.Parda

2.Preta

(1+2)

Branca

Amar.

Indígena

N/D

Total

Química Industrial

45,8

25,1

70,8

20,8

##

##

8,3

100,0

Letras I

44,7

18,8

63,5

30,6

1,2

3,5

1,2

100,0

Biblioteconomia

33,8

13,8

62,1

32,8

1,7

3,4

##

100,0

Artes Plásticas

44,0

14,0

58,0

36,0

2,0

4,0

##

100,0

Ciências Contábeis

46,1

11,2

57,3

32,6

3,4

4,5

2,2

100,0

Letras II

45,5

11,7

57,3

33,8

3,9

3,9

1,1

100,0

Química

40,0

16,3

57,1

30,6

8,2

2,0

2,0

100,0

Estatística

37,8

18,9

56,7

27,0

5,4

5,4

5,4

100,0

Engenharia de Minas

48,0

8,0

56,0

29,0

8,1

8,1

##

100,0

Pedagogia

41,9

13,3

55,2

36,2

1,9

1,0

5,7

100,0

Geografia

38,9

13,9

52,8

38,9

2,8

2,8

2,7

100,0

Composição e Regência

50,0

  #

50,0

50,0

##

##

##

100,0

Canto

50,0

  #

50,0

50,0

##

##

##

100,0

Direção Teatral

50,0

  #

50,0

50,0

##

##

##

100,0

Matemática

39,3

10,7

50,0

37,7

1,8

7,1

5,4

100,0

Física

43,2

 6,8

50,0

34,1

9,1

##

6,8

100,0

Lic. em Ciências

34,1

15,9

50,0

36,4

13,6

##

##

100,0

Fonte: Pesquisa Direta

Tomando como medida do prestígio dos cursos os índices da relação candidato/vaga, em cada curso, também por esse critério se verá que os cursos em que os negros estão mais representados, em todas as áreas, são justamente os que apresentaram as menores demandas. Na área de Matemática, Ciências Físicas e Tecnologia, o curso de Ciência da Computação foi aquele que apresentou o mais elevado índice da relação candidato/vaga[15] (16,6). Aí os brancos são maioria, enquanto que os negros estão predominantemente no curso de Química Industrial, cuja relação candidato/vaga foi 2,5. Do mesmo modo, na área das Ciências Biológicas e Profissões da Saúde, os brancos estão melhor representados no curso de Medicina, cuja relação candidato/vaga foi 25,1, enquanto que os negros apresentam sua mais elevada concentração no curso de Licenciatura em Ciências cuja relação candidato/vaga foi 4,7. Na área de Filosofia e Ciências Humanas os brancos têm mais elevada concentração em cursos como Administração, cuja relação candidato/vaga foi 10,6, os negros têm sua mais forte presença na área no curso de Biblioteconomia, cuja concorrência foi de três candidatos para uma vaga.

 

As razões da cor

Uma parcela bastante considerável dos estudantes (83,9%) declarou ter escolhido o curso que está seguindo por gostar do mesmo. Assim, apenas 17,1% apresentaram outras razões para a escolha do curso. Entre aqueles que justificaram sua opção por gostar do curso, os brancos são maioria (51,0%). Os brancos são também maioria (52,6%) quando a razão apresentada para a escolha do curso são as vantagens vislumbradas no mercado de trabalho. No entanto, os negros sobressaem quando a razão da escolha do curso é a menor concorrência por vagas (tabela 19).

Tabela 19 – Estudantes segundo a razão apresentada para a escolha do curso, por cor
UFBa. 1997

Razão

Branca

Parda

Preta

Outras

Total

Gosta do curso

51,0

33,4

7,6

8,0

100,0

Vantagens no merc. de trab.

52,6

33,2

8,4

5,8

100,0

Menor concorrência

34,8

50,0

9,1

6,1

100,0

Fonte: Pesquisa direta

Entre os cursos mais apontados como tendo sido escolhidos pelo baixo nível da concorrência, em primeiro lugar estão os cursos de Secretariado e Biblioteconomia. Em seguida estão os cursos de Licenciatura em Ciências e Agronomia. Em terceiro lugar estão os cursos de Engenharia de Minas e Pedagogia. Também aparecem nessa categoria de escolha os cursos de Ciências Sociais, Letras e Geologia. Outros cursos aparecem com menor freqüência.

Para onde vão as mulheres

À mulher, ao longo da sua história, esteve sempre destinado um lugar secundário. Contudo, como resultado das lutas que vem empreendendo, sobretudo a partir de finais do século passado, mudanças profundas têm ocorrido, nas representações sociais sobre si, sobre as relações de gênero e com relação à sua situação no âmbito do trabalho. Mas, em que pese o avanço da mulher no mercado de trabalho, que vem se verificando nas últimas décadas, o que se constata é que essa inserção é marcada por forte diferenciação. Mostram as análises que o seu acesso se dá “em setores bem delimitados: ‘os que não são senão a projeção na esfera mercante, do trabalho doméstico...’” (Kartchevsky, 1998:18), isto é, aqueles menos prestigiados aos quais correspondem, freqüentemente, salários mais baixos. Constatação semelhante faz Lima (1996), ao investigar a estrutura do mercado de trabalho brasileiro, assinalando que “mais direcionadas às carreiras ditas ‘tipicamente femininas’, as mulheres tendem a se dirigir para ocupações de menor ‘status’ e consequentemente menores rendimentos (16). Isso é tanto mais verdadeiro quando gênero e raça se articulam. Para a mulher negra, a relação com o mundo do trabalho esteve sempre regido por intensa exploração e por forte subordinação, e sua imagem, nos demais âmbitos da sociedade, marcada pelo estereótipo. Esses mesmos códigos vão ser acionados no momento da “escolha” da carreira universitária, produzindo uma hierarquia em que às mulheres, particularmente às mulheres negras, estarão destinadas as carreiras menos valorizadas; aquelas de menor prestígio social, cujas oportunidades no mercado de trabalho são as menos atraentes.

Na UFBa, em 56,9% dos cursos os homens são maioria. Estes cursos estão mais concentrados na área de Matemática, Ciências Físicas e Tecnologia, enquanto que os cursos em que as mulheres estão melhor representadas concentram-se nas áreas de Filosofia e Ciências Humanas e Ciências Biológicas e Profissões da Saúde. Considerando todas as áreas, os três cursos em que as mulheres estão melhor representadas são Canto, exclusivamente freqüentado por mulheres; Enfermagem, em que as mulheres são 93%; e Pedagogia, onde a presença feminina é também de 93%, sugerindo, deste modo, que nessas “escolhas” há, efetivamente, uma projeção do trabalho doméstico, tradicionalmente reservado à mulher (tabela 20).

 

Tabela 20 – Cursos com maior presença feminina

Curso

%

Canto

100,0

Enfermagem

 93,5

Pedagogia

 93,3

Dança

 90,9

Decoração

 87,5

Secretariado

 85,9

Nutrição

 83,3

Psicologia

 78,4

Biblioteconomia

 75,9

Licenciatura em Ciências do 1° Grau

 75,0

Letras Vernáculas

 70,6

Letras com Língua Estrangeira

 70,1

Artes Cênicas

 69,7

Artes Plásticas

 68,0

Medicina Veterinária

 67,0

Odontologia

 66,4

Ciências Biológicas

 64,3

Comunicação

 63,3

Arquitetura

 60,8

Ciências Sociais

 59,3

Museologia

Farmácia

 53,6

 50,4

Fonte: Pesquisa Direta

 Os homens estão melhor representados nos cursos de Engenharia Mecânica e Composição e Regência, freqüentados unicamente por homens, e nos cursos de Engenharia de Minas e Engenharia Elétrica, nos quais eles são 96% e 89%, respectivamente. Dos cursos “masculinos” 44% são considerados de “alto” ou “médio-alto” prestígio, enquanto que entre os “femininos”, apenas 40% atingem esses patamares de prestígio. As mulheres são maioria em apenas três cursos dos onze considerados de “alto prestígio”: Psicologia (78,4%), Odontologia (66,4%) e Arquitetura (60,8%). Atentando para a condição racial das mulheres, se observa que há certos cursos em que não há mulheres negras, mas o mais freqüentemente observado é a ausência das mulheres pretas. Nos cursos de Engenharia de Minas e Direção Teatral não há mulheres pretas ou pardas. Em outros cursos, como Engenharia Química, Engenharia Sanitária, Ciência da Computação e Museologia, por exemplo, embora as mulheres pardas estejam representadas, as mulheres pretas estão ausentes (tabela 21).

 

Tabela 21 - Cursos em que mulheres pretas estão ausentes - UFBa. 1997

Curso

Parda

Preta

Branca

Outras

Engenharia Mecânica

Engenharia de Minas

Composição e Regência

##

##

##

##

##

##

 ##

##

##

##

100,0

##

Artes Cênicas (Direção Teatral)

##

##

100,0

##

Engenharia Química

46,2

##

53,8

##

Engenharia Sanitária

20,0

##

70,0

10,0

Processamento de Dados

22,2

##

44,4

33,3

Museologia

40,0

##

40,0

20,0

Física

75,0

##

##

25,0

Música

50,0

##

25,0

25,0

Decoração

35,3

##

64,7

##

Desenho Industrial

60,0

##

40,0

##

Geofísica

25,0

##

75,0

##

Instrumento

50,0

##

50,0

##

Canto

50,0

##

50,0

##

Fonte: Pesquisa Direta

Chama atenção, contudo, a reduzida presença das mulheres pretas no curso de Secretariado. Embora a carreira de Secretária seja tradicionalmente considerada uma carreira feminina, este seja um curso cuja concorrência por vaga é relativamente baixa (5,8) e seja ainda o curso apontado com maior freqüência como tendo sido escolhido pela baixa concorrência, esse parece ser um espaço reservado às mulheres brancas e pardas. Aí as brancas são 53,6%, as pardas 42,9% e as pretas apenas 3,5%. É possível que a dita “boa aparência” seja um requisito observado no recrutamento de Secretárias e atue, deste modo, para excluir a mulher preta desta opção. A comparação da proporção de mulheres pretas no curso de Secretariado e em outros cursos, também tradicionalmente femininos, como o de Enfermagem (8,3%) e o de Psicologia (8,6%), por exemplo, mostra que nestes as mulheres pretas estão muito melhor representadas, apesar de serem cursos de maior concorrência: respectivamente 12,1 e 17,2 candidatos/vaga. Isto é, no primeiro, mais que o dobro da concorrência observada no curso de Secretariado e, no segundo, mais que o triplo. Esse achado leva a pensar que suas escolhas parecem, efetivamente, estar determinadas por aquilo que é possível almejar.

 

Considerações finais

Os resultados da pesquisa revelaram, deste modo, que o contingente que ingressou na UFBa. em 1997 constitui-se em sua maioria de um segmento masculino e branco, tem entre dezoito e vinte e três anos, veio da rede de ensino privada, freqüentou a escola básica no período diurno, não trabalhou durante o trajeto escolar e, em torno de um terço, prestou o vestibular pela primeira vez. Ocupa a posição de filho, no domicílio, vem de família cujo pai é portador de uma escolaridade não menor que o segundo grau completo e, em torno de um quarto deles, é profissional liberal, técnico de nível superior ou administrador. Freqüenta cursos na área de Filosofia e Ciências Humanas ou na área de Ciências Físicas e Tecnologia tendo escolhido o curso que realiza por gostar do mesmo.

A escolaridade dos pais sugere uma melhoria no padrão de escolarização do contingente negro, na medida em que a maioria dos estudantes negros pertencem a famílias cujos pais são sem instrução ou não completaram o primeiro grau. No entanto, esses resultados indicam, sobretudo, que os negros não estão se beneficiando, na mesma medida que o contingente branco, das vantagens que podem resultar da inserção em carreiras superiores de prestígio, o que pode estar ocorrendo seja porque a escolaridade anterior não lhes possibilita concorrer com os brancos pelos cursos que dão acesso a essas carreiras, seja porque os efeitos da discriminação racial não os encorajam a enfrentar a competição com estes. Se no ensino fundamental os negros têm a evasão e a repetência como contrapartida da ampliação do seu acesso à escola, no ensino superior à ampliação das oportunidades de acesso, que parece se verificar mais recentemente, parece corresponder a inserção nas áreas e cursos menos prestigiados do ensino superior.

Como a raça, também o gênero opera como código de acesso à carreira, determinando para a mulher as carreiras menos prestigiadas. A articulação entre cor e gênero aprofunda as desigualdades aí verificadas, na medida em que, além de determinar uma educação básica mais precária, que impõe barreiras de acesso às carreiras mais disputadas, ao segmento negro como um todo, para a mulher negra, em particular, o acesso à carreira está ainda balizado pelo critério de “boa aparência”.

Se os negros, homens e mulheres, estão em desvantagem na UFBa., tanto numericamente quanto em relação ao prestígio dos cursos por eles freqüentados, há que se pensar naquele contingente de estudantes negros que estão nas escolas superiores privadas, por não poderem freqüentar cursos diurnos ou por não terem sido bem sucedidos na disputa por uma vaga na universidade pública, onde é quase certo que os negros são maioria.

O desconhecimento[16] sobre a condição racial do contingente que se candidatou ao vestibular impediu, contudo, que se pudesse conhecer a proporção daqueles que deixaram de ser selecionados em cada segmento racial e, portanto, a exata dimensão da seletividade ali operada.

Anexo: 

 Tabela 22 – Auto-classificação de cor espontânea
UFBa. 1997

Cor

N

%

Amarelo

  29

  0,9

Branco

1648

 50,1

Branco brasileiro

   1

  0,0

Caboclo

   1

  0,0

Castanho

   1

  0,0

Claro

  10

  0,3

Escuro

   1

  0,0

Indígena

   1

  0,0

Marrom

   5

  0,0

Mestiço

   8

  0,2

Misto

   2

  0,1

Moreno

 427

 13,0

Moreno claro

  73

  2,2

Moreno médio

   1

  0,0

Moreno escuro

   2

  0,1

Moreno pardo

   1

  0,0

Mulato

  30

  0,9

Mulato claro

   3

  0,1

Mulato escuro

   1

  0,0

Mulato médio

   2

  0,1

Negro

 223

  6,8

Pardo

 648

 19,7

Pardo claro

  12

  0,4

Não declarado

 119

  3,6

Preto

  37

  1,1

Total

3288

100,0

Fonte: Pesquisa direta

 Referências Bibliográficas

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[1] Professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Pesquisadora do Programa A Cor da Bahia – UFBA/Fundação Ford.

[2] Versões preliminares deste trabalho foram apresentadas na 21ª Reunião Anual da ANPOCS, Caxambu, out., 1998 e no 2° Congreso Mundial de Educacción Internacional, Integración y Desarollo, Buenos Aires, Argentina, Jul. 1999. Agradeço ao Prof. Dr. João José Reis, ao Prof. Dr. Ubiratan Castro, ao Prof. Jocélio Teles dos Santos, aos Estudantes do Núcleo de Consciência Negra do Instituto de Letras da UFBa. e aos militantes da UNEGRO pelas contribuições apresentadas quando da discussão deste trabalho.

[3] Neste trabalho utilizo os termos “raça” e “cor” como equivalentes. Com base na análise de Guimarães (1995), o termo “raça” será aqui entendido não como uma realidade biológica, mas como uma construção social, que se refere ao significado conferidos pelas pessoas aos atributos físicos, como demarcadores dos indivíduos e grupos no mundo social. Nessa mesma perspectiva, a “cor” será entendida como a categoria mais freqüentemente utilizada, no Brasil, para referir-se à raça. A “cor”, enquanto um atributo físico, é acionada para falar das diferenças sociais; no dizer de Maggie (1996), a cor é uma “metáfora” ; as marcas raciais são “signos inscritos na pele”. 

[4] Utilizo o termo em sentido análogo ao usado por Bourdieu (1973:26), para referir-se ao banimento dos estudantes das camadas pobres, do sistema escolar superior francês.

[5] Em entrevista ao “Jornal da Universidade”, n° 14, de Dez. de 1995, o Professor Ubiratan Castro, do Departamento de História da UFBa., abre a discussão sobre a participação diferenciada de brancos e negros na UFBa., chamando atenção para a grande semelhança entre o perfil desta Universidade e o da universidade da África do Sul durante o regime de apartheid. “A cor da Universidade, em um regime de não apartheid, termina produzindo resultados muito semelhantes aos de uma universidade do apartheid”, considera. Para ele “há uma hierarquização em termos de escolas, de escolhas e em termos de possibilidade de cursar determinadas faculdades, também hierarquizadas, diferenciadas por cor. Deste modo, assim como na universidade do apartheid, haveria na UFBa. uma segmentação, segundo a qual, aos brancos caberia a área voltada “para a tecnologia, para as ciências”; “as áreas mais duras, as hard, são mais brancas” , enquanto que os negros estariam nas áreas soft, “exclusivamente voltadas para a própria negritude, para as Ciências Sociais, para a Antropologia, Educação, História.”

[6] O Grupo a que se refere a autora é o Grupo Interdisciplinar de Estudos Afro-Brasileiros/UFMG (GIEAB)

[7] Para aplicação do questionário contamos com a valiosa colaboração de Ademar Mota, funcionário da Secretaria Geral de Cursos SGC/UFBa, a quem agradeço.

[8] Nesse levantamento está sendo usada a mesma terminologia de cor adotada pelo IBGE.

[9] Embora os percentuais apresentados na tabela 1, para a UFBa., refiram-se apenas àqueles que responderam à questão, considero importante registar que 2,1% deixaram de fazê-lo.

[10] C.f. o Censo Demográfico de 1991 a população do Estado é de 11.867.337 de habitantes. Destes, 2.398.653 são brancos, 8.190.302 são pardos e 1.199.968 são pretos. A soma de pretos e pardos totaliza 9.390.270. A opção por agregar, em vários momentos deste trabalho, os pardos e pretos sob a designação de negros, baseia-se nos estudos que consideram que esse recurso não se constitui numa mera simplificação, mas que os indivíduos que se autoclassificam nestas categorias (pardos e pretos), partilham de uma situação socio-econômica muito similar no que tange a indicadores relativos a educação, inserção na força de trabalho, rendimento, mobilidade social, entre outros aspectos, justificando que em certas situações eles possam ser vistos como tendo uma situação comum. A esse respeito, ver Nelson do Valle e Silva, O preço da cor: Diferenciais raciais na distribuição de renda no Brasil, in: Pesquisa e Planejamento, v.10, n° 1, Abril , 1980 e Lúcia Elena Garcia de Oliveira et. al., O lugar do negro na força de trabalho, Rio de Janeiro, IBGE, 1981.

[11] Ao final do trabalho apresento em anexo a tabela 22 com o conjunto das designações de cor apresentadas pelos respondentes e suas respectivas freqüências, cuja síntese está aqui apresentada.

[12] O trabalho da autora é posterior a 1995, vez que traz referências a publicações desta data.

[13] A atribuição de níveis de prestígio aos cursos baseou-se numa consulta a empresas de consultoria em RH, que atuam em Salvador, a respeito do prestígio desfrutado pelas carreiras no mercado de trabalho, e da qual resultou a seguinte escala de prestígio: Alto – Medicina, Direito, Odontologia, Administração, Processamento de Dados, Engenharia Elétrica, Psicologia, Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Arquitetura, Engenharia Química; Médio-Alto – Ciências Econômicas, Jornalismo, Medicina Veterinária, Engenharia Sanitária, Enfermagem, Pedagogia, Ciências Contábeis, Nutrição, Química Industrial, Engenharia de Minas; Médio – Secretariado, Farmácia, Agronomia, Química lic. e bac., Educação Física, Desenho industrial, Ciências Sociais, Artes Plásticas, Letras, Matemática; Médio Baixo – Filosofia, Ciências Biológicas, Música, Geologia, Geofísica, Composição e Regência, Estatística, Artes Cênicas, Dança, História; Baixo – Desenho e Plástica, Instrumento, Biblioteconomia, Canto, Licenciatura em Ciências do 1° Grau, Geografia, Museologia.

[14] Licenciatura e Bacharelado.

[15] Os índices da relação candidato/vaga são do Setor de Seleção da UFBa., publicados no Manual do Candidato , Concurso Vestibular, 1998.

[16] A partir de 1998 a UFBa. passou a incluir o quesito “cor” no seu “`Questionário Sócio-Econômico Cultural”, por solicitação do Programa “A Cor da Bahia”, o mesmo ocorrendo com a Universidade da Estado da Bahia – UNEB, também por solicitação do Programa, a partir do ano seguinte.