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Grupo de Trabalho 1
Amizade, igualdade e diferença:  uma comparação entre discursos no Rio de Janeiro e em Londres 

Claudia Barcellos Rezende[1]

Introdução

Revendo minhas notas de campo sobre um grupo de ingleses em Londres, percebi a ausência – gritante para mim agora – da discussão de raça na amizade. Teria sido eu ou eles? A percepção me surpreende agora pois de volta ao Brasil, pesquisando amizade no Rio de Janeiro, vejo o quanto raça, no sentido de cor, está presente ao se falar das pessoas. Junto à raça aparece a questão das diferenças de “condição social”, isto é, de classe, que aparece de forma mais velada na amizade. Entre os ingleses, a classe era um tema tabu, raramente discutido espontaneamente mas gerando discursos prolíficos a partir de indagações minhas. Por outro lado, no material inglês, há uma profusão de conversas sobre diferenças de gênero, sexualidade e amizade. Já com os cariocas estudados, este é um tópico que surge apenas em resposta a perguntas na situação de entrevista.

O que significa falar destas diferenças em um discurso sobre amizade? Não penso tanto em termos de uma verificação sociológica mais clássica, quando se toma classe, raça e gênero como variáveis que tem impactos sobre fenômenos e relações. Pretendo neste trabalho seguir um outro caminho. Como gênero, raça e classe são elaboradas enquanto noções sócio-culturais com contornos particulares que marcam diferenças, criam desigualdades e até segregam as pessoas? Que lugar elas ocupam em discursos distintos sobre amizade, uma relação tradicionalmente vista como aproximando voluntariamente pessoas? 

Mais ainda, na pouca literatura sobre amizade nas ciências sociais, aparece freqüentemente a condição de que os amigos sejam iguais ou semelhantes socialmente (Allan 1989, Paine 1974). Neste sentido, a amizade seria fundamentalmente distinta, por exemplo, das relações de parentesco que, além de serem assimétricas, não são voluntárias. Ademais, segundo Allan, a maioria das amizades tende a se estabelecer entre pessoas ocupando posições sociais similares, com circunstâncias domésticas parecidas, do mesmo gênero, origem étnica e religião (1989: 21-23), pois elas convivem mais nos mesmos contextos (tipo de escola ou universidade, tipo de trabalho, etc.) e compartilham mais interesses, tendo mais chances portanto de tornarem-se amigas.

Esta argumentação vem atrelada a uma preocupação em afirmar a amizade como uma relação de ordem mais expressiva – dos sentimentos e da individualidade – que instrumental (Allan 1989), buscando assim diferenciá-la de relações mais comerciais onde esta dimensão predomina. Para reforçar este caráter expressivo, seria preciso haver equivalência ou mutualidade, como diz Paine (1974), entre amigos para distinguir a amizade da assimetria de uma relação clientelista, onde uma das partes deve aceitar os valores da outra ou esperar mais da outra. Ora, a ênfase tanto na expressividade quanto na equivalência/igualdade possui um desenvolvimento histórico específico no pensamento ocidental, associado ao surgimento das noções acerca do indivíduo enquanto ser dotado de uma interioridade expressiva e igual a todos “por natureza” (Silver 1989, Taylor 1989).  Entretanto, não pretendo aqui aprofundar esta desconstrução histórica mas apenas contextualizar a associação entre amizade e igualdade, para poder relativizá-la ou nuançá-la através dos casos etnográficos que trato neste artigo. 

Parto de dois conjuntos distintos de dados etnográficos, reunidos a partir de pesquisas desenvolvidas em Londres e no Rio de Janeiro. Em ambas, focalizei pessoas de segmentos médios, jovens entre 20 e 30 anos, em geral solteiros, questionando-os sobre suas visões e experiências acerca da amizade. No entanto, se em linhas gerais o desenho das pesquisas se assemelha, há diferenças importantes entre elas. Em Londres, tive a oportunidade de realizar trabalho de campo durante um ano e pouco (1991-92), base para minha tese de doutorado, acompanhando durante este período uma rede de dezessete pessoas brancas, amigos em graus variados, com idades entre 25 e 20 anos. Naquele momento, elas estavam no início de suas carreiras profissionais, vivendo longe de suas famílias e experimentando relações amorosas mais estáveis. Através de algumas entrevistas formais e muitas conversas relaxadas em pubs, jantares caseiros e festas, pude construir uma visão mais ampla da vida destas pessoas em Londres para além do tema específico da amizade. Como mulher brasileira em Londres, eu era freqüentemente agraciada com depoimentos sobre amizade que, implicitamente, contrastavam a famosa “reserva inglesa” com o que eles entendiam ser uma forma bastante “latina” de se relacionar – ser extrovertido e afetuoso através de abraços e beijos.

Ao retornar para o Rio de Janeiro, elaborei um projeto de certa forma comparativo, destacando algumas questões sobre amizade e diferença que haviam surgido na pesquisa inglesa. Trabalhei com três bolsistas de iniciação científica, entrevistando um número maior de pessoas – 34 até o presente, entre 1998 e 1999.[2] Este conjunto foi recortado em subgrupos com o fim de explorar algumas questões mais específicas: um grupo de jovens universitários negros de camadas médias, dois grupos de jovens universitários brancos com focos de sociabilidade em torno de uma academia de ginástica e de festas de forró, respectivamente, e um grupo de homens e mulheres empregados de empresas estatais. Com exceção deste último, que reunia pessoas com 45 a 50 anos de idade, casados e divorciados com filhos, os outros conformavam redes de amigos, todos com 20 e poucos anos, morando com os pais. Em vista da maior semelhança destes últimos com o grupo de ingleses estudado, deter-me-ei apenas sobre eles na análise comparativa que realizo neste artigo. Todos foram entrevistados a partir de um roteiro comum de questões acerca das noções e experiências sobre a amizade e da possível influência das diferenças de classe, raça e gênero nas relações com os amigos. Vejo os constrangimentos desta situação de pesquisa não tanto em termos da interação entre as características sociais dos pesquisadores e entrevistados, uma vez que estas eram bastante semelhantes, mas do recursos a entrevistas com gravadores, criando uma atmosfera distinta de uma conversa relaxada. Creio que a própria condição de ser um estudo sobre amizade – traço também do trabalho de campo em Londres – gerou uma elaboração particular de idéias naquele contexto, muito provavelmente distinta daquele que surge no convívio cotidiano.    

Em termos de comparação entre as pesquisas há, portanto, possibilidades e limites. Apesar do tema e recorte de segmentos em comum, a natureza dos dados é distinta em virtude da metodologia de cada estudo. Por não ter sido baseado em um trabalho de campo como o que fiz em Londres, o material que venho reunindo no Rio de Janeiro não tem a mesma profundidade, restringindo-se a depoimentos e narrativas. Além disso, este encontra-se em processo de análise, ao passo que o estudo inglês vem sendo depurado nestes seis anos após a conclusão da tese de doutorado. Entretanto, um pode ser utilizado como contraponto ao outro, ou  melhor, como forma de iluminar e realçar aspectos do outro. Trato os materiais etnográficos enquanto narrativas sobre amizade, ou seja, como formas retóricas nas quais os significados culturais sobre a amizade criam ou contestam certas realidades sociais (Lutz e Abu-Lughod 1990). Nos dois estudos, as pessoas apresentaram mais de uma narrativa sobre amizade, discutindo de forma diversa suas relações com pessoas semelhantes e diferentes. Neste sentido, estas narrativas sobre a amizade são também narrativas implícitas sobre o processo de fazer distinções sociais. O que vai variar entre elas, e que será o objeto deste artigo, é a elaboração destas diferenças sociais e o lugar que elas ocupam nestas narrativas.

 

Amizades homogêneas

Quando Catherine, inglesa branca de olhos azuis, se casou com Antonio, um chileno de descendência indígena, ela sonhava com filhos morenos como o pai. Susan, igualmente branca e loura, não escondeu uma certa decepção quando sua filha nasceu pois, ao invés de parecer-se com o pai, Diego, um mexicano moreno de cabelos pretos e lisos, ela era branca, loura e de olhos azuis.  Para uma brasileira acostumada a ouvir conterrâneos louvando louras de olhos azuis, achava curioso o desejo destas inglesas de terem filhos morenos, de aparência decididamente não inglesa. Tanto Catherine quanto Susan, assim como o restante do grupo que estudei, gostavam de viajar por países do terceiro mundo, decoravam suas casas com objetos destes lugares e preferiam as culinárias estrangeiras à inglesa. Mas, nas relações de amizade, o gosto pelo diferente cedia todo o espaço à semelhança. Todos os amigos mais próximos eram ingleses, brancos, da mesma faixa etária, de origem social e familiar semelhantes, variando apenas quanto ao sexo.

Porque padrões estéticos tão distintos? Para entender esta escolha por amigos com características sociais semelhantes, é preciso antes destrinchar a própria definição de amizade apresentada por estes ingleses. Repetidamente ouvi a frase que um amigo é “alguém com que eu possa ser eu mesmo” (someone I can be myself with). Inicialmente atraídos por afinidades de senso de humor, interesses e práticas de lazer, com o tempo os amigos deixavam de ser importantes apenas por causa da sociabilidade para conquistar um lugar especial enquanto testemunhas de um processo de auto-revelação mútua. A idéia de “poder ser eu mesmo” significava a possibilidade de uma apresentação espontânea de si mesmo, onde a contenção da reserva e do auto-controle exigidos pelas regras de polidez caísse por terra. Menos uma exposição verbal de informação e sentimentos íntimos, esta revelação completa do “self verdadeiro” (true self) acontecia principalmente através da exibição de crises de ansiedade, ataques de mau humor, bebedeiras, dores e necessidades fisiológicas, etc. Mostrar o “self verdadeiro” tornava-se um modo de se comportar que podia ser avaliado como  não apropriado em certos contextos mas que deveria ser aceito sem julgamentos pelos amigos cuja relação já havia se solidificado pelo tempo e pela criação da confiança.

Esta definição de amizade estava estreitamente associada à fase de vida pela qual passavam aqueles ingleses, iniciando suas carreiras profissionais, estabelecendo relações amorosas mais estáveis, tudo em meio a dúvidas e às vezes transformações radicais em suas escolhas. A maioria deles havia nascido e crescido fora de Londres, em pequenas cidades do sul da Inglaterra, majoritariamente brancas onde os não-brancos formavam minorias estrangeiras (de origem africana, caribenha ou asiática). A ida para a capital só se deu ao final da adolescência, para cursar universidade, ou aos vinte e poucos anos, para fazer uma pós-graduação ou trabalhar. De certo modo, então, morar em Londres ainda era uma novidade, fascinante pela diversidade de opções de estilos de vida, assustadora pela dimensão que fragmentava e isolava as pessoas.

Naquele momento, as amizades construídas em Londres eram ainda recentes, se comparadas aos laços duradouros com os amigos de escola e da cidade natal. Como muitos destes haviam migrado para Londres juntos, eram eles que formavam um núcleo básico de apoio de todo o tipo – abrigar na chegada, ajudar na busca de empregos, introduzir a novos amigos, assistir nas crises. Das relações novas, as mais frágeis eram aquelas estabelecidas no local de trabalho, onde predominavam as regras da polidez e do autocontrole com a interferência dos elementos da hierarquia funcional e de competitividade entre os colegas. Contrastando com a experiência deste ambiente, as amizades antigas ofereciam algo que naquele período de assentamento era crucial: a possibilidade de “ser eu mesmo” com confiança de que serão aceitos.     

Entretanto, esta forma de pensar a amizade era, muitas vezes, mais uma folk theory do que um reflexo da vivência concreta das pessoas. Poder “ser eu mesmo” com os amigos tornava-se mais um ideal de experiência em virtude das dificuldades criadas pelas regras de polidez. Ao contrário do “ser eu mesmo”, ser polido implicava em uma exposição emocionalmente contida de si próprio, adequada em situações públicas em geral, no meio de trabalho e nas relações novas. A necessidade da reserva e da contenção traduzia a visão de que a espontaneidade era uma imposição no tempo e espaço pessoal das pessoas. A diferença no caso dos amigos estava na aceitação desta intromissão, gradualmente estabelecida de forma recíproca. A exigência da polidez revelava então o valor atribuído à preservação da individualidade de cada um, introduzindo uma tensão no desejo de “ser eu mesmo” entre amigos.

Mas a própria polidez era também colocada em cheque pelo sentido implícito de falsidade dado ao self polido. O self verdadeiro, cuja exposição era valorizada ainda que com ambivalências,  era aquele espontâneo, sem reservas ou contenções.[3] Esta valorização era ainda mais enfatizada uma vez que as regras da polidez estavam particularmente associadas à forma de pensar e agir da classe média.  Segundo estes ingleses, as pessoas da classe trabalhadora seriam mais espontâneas e mais autênticas, embora não dominassem a etiqueta polida dos eventos sociais da classe média. A reação negativa à associação entre polidez e classe média surgia de uma ambivalência mais profunda em relação ao peso ou influência que a classe social tem sobre as pessoas. Em uma época marcada pela crença exacerbada na liberdade individual – instigada economicamente pela cultura de consumo e politicamente pelos governos conservadores de Thatcher e Major a partir da década de 80, admitir possíveis marcas de classe contradizia esta autonomia tão cara a eles. No entanto,  o próprio modo de falar sobre classe reforçava esta contradição. Ninguém se reportava à situação sócio-econômica presente das pessoas mas sempre às suas origens de classe (class background), independente de ter havido ascensão social. A expressão “origem de classe” vinha também atrelada à idéia de socialização familiar (upbringing), processo e período no qual formas de pensar e agir básicas foram incutidas. Portanto, se havia um desconforto e às vezes mesmo uma rejeição de certos valores de classe, por outro lado, o discurso sobre classe enfatizava uma formação da pessoa tão marcada por estes valores de maneira que sua origem social seria sempre mais importante do que sua situação presente. 

Dentre as marcas deixadas pela socialização familiar (de classe) estava o modo de pensar e lidar com o espaço pessoal próprio e dos outros. As regras da polidez aplicavam-se, por exemplo, à proteção de um senso de privacidade e individualidade que deveria ser mantido reservado de todas as relações que não fossem as pessoais próximas. Esta forma de pensar era, por sua vez, associada às pessoas de classe média e colocava certas dificuldades nas suas relações com pessoas de classe trabalhadora, cuja espontaneidade seria muitas vezes invasiva. Neste sentido, estabelecer laços de amizade com pessoas cujo entendimento sobre espaço pessoal fosse distinto tornava-se especialmente complicado, uma vez que o processo de construção desta relação necessitava uma certa sincronização das revelações pessoais, em termos do que era mostrado e de sua intensidade. Daí a homogeneidade social e étnica/racial do grupo de amigos próximos, tão contrastante com a diversidade existente em Londres.

Mas porque então a abertura a parceiros amorosos distintos? Neste campo, encontrei algumas mulheres que namoravam homens de classe trabalhadora ou então, como Catherine e Susan (que já haviam se relacionado com homens de classe trabalhadora), de países diferentes, tanto em termos culturais quanto étnicos/raciais. Esta foi uma questão que percebi somente após o trabalho de campo, de forma que arrisco algumas interpretações sobre esta diversidade nas relações amorosas.[4] Ainda que, para algumas mulheres, estas escolhas representassem um ato de rebeldia aos valores de classe, por exemplo, elas não questionavam por outro lado as visões sobre “self verdadeiro” e “self polido”, que implicavam em um modo específico de pensar sobre os limites da individualidade. Entretanto, como nas relações amorosas o ato sexual era visto como responsável por um tipo diferente, mais completo, de exposição do “self verdadeiro”, a possibilidade de um descompasso no processo de auto-revelação em virtude de compreensões distintas sobre privacidade era pouco enfatizada se comparada à amizade. Ou seja, se as revelações graduais entre amigos eram percebidas como embasadas em noções socialmente aprendidas, a exposição via o sexo era mais naturalizada (como se para qualquer um, de qualquer origem social, fazer sexo implicasse em expor-se completamente) e portanto menos afetada pelas diferenças de origem social.

Não era fácil, no entanto, namorar homens de classes distintas. Embora muitas fossem críticas aos valores de classe, havia momentos em que lhes escapavam afirmações de uma certa superioridade da classe média em relação à classe trabalhadora. Algumas destas relações não sobreviveram ao final do meu trabalho de campo, em grande parte por diferenças em formas de pensar associadas a socializações de classe diferentes. Por outro lado, já havia uma tolerância maior aos valores distintos dos homens estrangeiros. Apesar de serem originários de países colonizados, em relação de subordinação com a Europa, nenhuma das mulheres apresentou a postura hierárquica mostrada, mesmo que ambivalentemente, com referência à classe social. É certo que, diante de uma pesquisadora brasileira, colocações com este tom poderiam ser ofensivas para mim, mas é verdade também que ambos os latino americanos escolhidos vinham de sólidas famílias de classe média de seus países.    

Ao contrário do tema classe social, as diferenças de gênero eram um assunto legítimo de conversas, principalmente no tocante a sua ingerência sobre as relações amorosas. Discutia-se se as mulheres eram de fato mais emotivas do que os homens ou se elas apenas se expressavam mais do que eles ou se tudo isso não passava de uma construção cultural. Assim como as dúvidas em torno da real influência da origem de classe, as diferenças de gênero também angustiavam pelas indagações em torno de seu status: diferenças de fato naturais ou elaboradas socialmente? A questão se espelhava na própria maneira de falar das relações pessoais. Se sobre os parceiros (heterossexuais) surgia uma série enorme de problemas atribuídos às diferenças de gênero, fossem elas naturais ou culturais, já com referência aos amigos do sexo oposto esta discussão desaparecia.

A maioria das pessoas tinha amigos próximos do sexo oposto e não associava qualquer problema entre eles à diferença de gênero. Apenas duas mulheres argumentaram não sentir a mesma confiança nos amigos homens, apesar de terem ex-namorados como amigos íntimos. Homens e mulheres falavam sobre amizade do mesmo modo, com a mesma definição e valores. Uma das poucas diferenças em seus discursos estava na maior recorrência entre as mulheres do uso das categorias ofensa e mágoa nas referências aos amigos, sempre ligado a episódios de falta de reciprocidade na atenção e consideração ao outro.[5] No restante, entretanto, a amizade era discutida de modo bastante semelhante por mulheres e homens. O único ponto capaz de suscitar maiores reflexões (ainda assim bem menos que as diferenças de gênero nas relações amorosas) era a possibilidade de amigos sentirem atração sexual pelo outro e as conseqüências disto para a relação.

Como alguns autores apontam (Caplan 1987), a construção da sexualidade no ocidente está estreitamente atrelada ao modo como o gênero é pensado. Neste sentido poderíamos dizer que mesmo na amizade a diferença de gênero, via a questão da sexualidade, deixa suas marcas. Porém, de forma bem distinta de como ela é tratada nas relações afetivas. Nestas, há uma grande dúvida se a marca do gênero é tão essencial assim que não há como pensar a pessoa sem esta referência. Ou seja, parceiros teriam que lidar o tempo todo com o outro visto sempre pelo prisma do gênero, enquanto algo que o recobre completamente, o que entra em choque com a forte crença na autonomia individual. Já na amizade, o gênero parece ser apenas um aspecto da pessoa, mais visível em alguns momentos e menos em outros, e certamente pouco problemático para a relação. Era como se o discurso sobre as relações amorosas construísse um gênero mais essencializado enquanto que as narrativas sobre as amizades mostram um gênero mais construído e manipulável.

Se o gênero, apesar de tema provocador e ambivalente, aparecia pouco nas discussões das relações entre amigos, a classe social, assunto igualmente instigante e angustiante, já se tornava uma pedra no caminho de algumas amizades. Ao contrário da diferença de gênero que era relevada, ter origens de classe distintas parecia marcar mais essencialmente as pessoas, dificultando a criação de laços de amizade entre elas. Se a discussão de raça é acentuadamente ausente entre eles, isto não significa que ela fosse menos importante. A brancura homogênea dos amigos torna-se significativa diante da diversidade étnica e racial existente em Londres. 

 

A amizade acima de tudo

Nos depoimentos dos cariocas entrevistados, o termo amizade apresenta uma verdadeira polissemia. Todos produziram definições gerais para a amizade que refletiam as qualidades de um amigo ideal, nem sempre correspondendo às estórias concretas que eles viviam. Desta elaboração mais geral desdobravam-se alguns matizes quando juntava-se à palavra amizade verbos como “ter” ou “fazer”.  Alguns diziam “ter amizade” por muitas pessoas mas “faziam amizade” com poucos. Mais ainda, estas afirmações surgiam em contextos diferentes, como respostas a perguntas distintas, associadas ao modo de pensar gênero, raça e classe social.

Para estes jovens entrevistados, o amigo era aquele com quem se tinha afinidades: de gostos, de visão de mundo, de aspirações – com quem se criava identificações. Era também alguém “de confiança”: que guarda segredos e intimidades, que quer ajudar e não “sacanear”. Nesta idéia subjaz o sentido de doação pois o amigo escuta e dá apoio fielmente porque se importa com o outro. Por isso às vezes, os amigos tornam-se tão próximos que são vistos como “irmãos”.  Nos depoimentos, aparecia sempre uma referência implícita às pessoas interesseiras, aos falsos amigos, que se aproximam dos outros até de forma afetuosa mas faltam nos momentos difíceis ou até mesmo “sacaneam” o outro. Daí, o fato de alguns terem definido o amigo também como uma pessoa que é verdadeira – nas intenções e na doação. Nota-se que não está em questão aqui uma revelação do self verdadeiro/espontâneo por oposição a um self contido/falso, como no caso inglês, como elemento caracterizador da amizade. Amigos compartilham suas “intimidades” sim mas a revelação destas varia quantitativamente, e não qualitativamente, de acordo com o grau de proximidade da relação. O colega, por exemplo, era em geral companheiro de alguma sociabilidade, alguém por quem se tinha afeto mas com quem não se tinha “intimidade” e que não tinha “se provado” amigo.  Assim, o amigo verdadeiro era aquele que não só conhece o outro e suas “intimidades”  mas que se envolve, que cuida e se preocupa com o outro. O eixo aqui é a doação/apoio/”estar lá” do verdadeiro amigo em contraposição a um individualismo/egoísmo e até sacanagem do falso amigo.

Assim como no material inglês, estas idéias sobre amizade estavam associadas à fase de vida em que se encontravam as pessoas, todas universitárias, solteiras, morando com os pais. Todas elas tinham como melhores amigos relações formadas na infância, seja no colégio ou na vizinhança (com freqüência, no prédio onde residem), ao passo que as amizades formadas na faculdade ainda eram mais recentes e menos sólidas. Estas relações mais antigas eram também relativamente homogêneas socialmente, com pequenas diferenças de acordo com as condições econômicas dos pais e com alguma variação de cor.  Neste ambiente, a variedade de pessoas era bem maior, com grupos com estilos de vida (“tribos”) distintos, de modo que a preocupação em encontrar pessoas afins e verdadeiras espelhava um processo de sondagem em meio a pessoas cujas referências não eram dadas, como no colégio ou no prédio, mas tinham que ser descobertas e construídas.[6]

Que diversidade de pessoas era esta presente nas universidades? Metade dos entrevistados estudavam em faculdades particulares que, embora distribuam bolsas de estudos, exigem mensalidades caras. Ou seja, de uma forma geral a condição sócio-econômica dos estudantes poderia ser descrita como sendo classe média. Mas, na percepção dos entrevistados, esta classificação era mais nuançada. Muitos pensavam classe social em termos estritamente financeiros: ser de classe média significava ter carro, poder viajar quando quiser, não ter que trabalhar durante a faculdade e alguns se sentiam “pobres” por não ter estes recursos. Na faculdade, então, variava a condição financeira dos estudantes, afetando por exemplo os tipos de sociabilidade e lazer praticados com os amigos. Além disso, e mais importante que isto para as amizades, havia uma diversidade de estilos de vida, que não era diretamente associada à classe no modo de pensar dos entrevistados. Gostar ou não de freqüentar bailes de forró, de discutir política, de ler filosofia, de vestir-se como “mauricinho”/“patricinha” ou “alternativo”, entre outros, eram apenas alguns dos indicativos sobre interesses e formas de pensar distintos, que muitas vezes separavam grupos de pessoas em “tribos”. Falar de afinidades como importantes no processo de estabelecer amizade era então um modo de apontar para o significado das distinções sócio-culturais, vinculadas de maneira indireta às condições econômicas, nas relações com os amigos.

No entanto, ao responder a perguntas sobre a influência da classe social – e  também raça e gênero – nas  amizades, todos eram rápidos em negar qualquer efeito sobre a relação. Às vezes, algumas pessoas mencionavam que diferenças de condições econômicas podiam afetar a escolha de atividades de sociabilidade entre amigos, mas mesmo assim era contornável de alguma forma. Questões como diferença de “educação” e “cultura”, categorias entendidas, respectivamente, como etiqueta de convivência e valores e visões de mundo, já eram mais significativas para a amizade, mas apareciam desvinculadas discursivamente da idéia mais estritamente financeira de classe social. Havia amigos que poderiam ser considerados pobres mas eram educados, enquanto outras pessoas podiam até ser ricas mas não necessariamente educadas e cultas, não se tornando amigas. Em alguns momentos, a diferença de bairro de residência, principalmente quando contrastava zona sul e zona norte ou então zona norte e subúrbios, tornava-se um modo indireto de reunir estilos de vida e formas de pensar à condição financeira.

De forma semelhante, todos afirmavam que a diferença de gênero não influía na amizade. Mas, ao comentar sobre as relações com os amigos mais próximos, estes eram, com freqüência, do mesmo sexo, embora todos tivessem amigos do sexo oposto. Vários jovens falaram da possibilidade de surgir atração sexual com amigos do sexo oposto, o que poderia confundir a relação. Cito uma passagem da entrevista de Natália, jovem negra professora de dança, que tem vários amigos homens:

“acho que é muito plausível isso de experimentar, dar um beijo no meu amigo, um abraço mais carinhoso e no dia seguinte voltar tudo ao normal (...) eu acho que acontece muito da pessoa se interessar, porque é uma pessoa interessante, eu me dou bem, então pode ser que me dê vontade sim de beijar na boca, porque é uma homem que está ali. É, eu acredito sim na amizade, não é por isso que a amizade vai acabar”.

 Aqui, parece haver uma percepção essencializada do gênero, como se fosse impossível deixar de ver o amigo como homem ou mulher, visão que surge em outras entrevistas também. Porém, ainda que apenas no plano do discurso, isto não era visto como empecilho para a amizade. O tipo de abertura e confiança estabelecidas não variava de acordo com o sexo do amigo.

Do mesmo modo, ninguém reconhecia qualquer diferença feita em termos de raça. Dentre os entrevistados brancos, poucos tinham melhores amigos negros enquanto outros diziam “até” ter amigos negros, sugerindo uma amplitude no círculo social que nem sempre parecia corresponder à prática. Estas colocações podem estar relacionadas a dois modos de pensar diferentes: um primeiro, mais antigo e enraizado na sociedade brasileira, refere-se à percepção de que amigos nunca são opostos em termos de cor mas são comparativamente mais escuros ou mais claros, o que também leva à diminuição do significado da cor na relação (Pacheco 1986). O segundo, mais recente e talvez mais característico dos segmentos médios urbanos, diz respeito a uma maior atenção ao problema da discriminação racial juntamente com um crescente movimento de valorização da identidade negra, o que pode explicar a necessidade de afirmar a existência de amigos negros.

Mesmo os jovens negros entrevistados, com discursos elaborados sobre suas identidades negras, tinham basicamente melhores amigos brancos. Curiosamente, ao falarem sobre amizade, a questão racial desaparecia e, a não ser por perguntas nossas, eles raramente mencionavam a cor de seus amigos. A diferença de cor na amizade era, então, secundária ao aspecto das diferenças de classe e estilo de vida, como, por exemplo, no depoimento de uma estudante de comunicação social que não se afinava com os antigos vizinhos pois estes adoravam churrasco e pagode de fundo de quintal e ela não. Aliás, foram eles que, mais do que os outros, apontaram para a dificuldade de ter amigos de condições sócio-econômicas distintas. 

Como entender este discurso de minimização e até negação da diferença na amizade? Enfatizo a particularidade deste discurso enquanto um conjunto de idéias que não deve ser confundido com a experiência das relações de amizade mas que serve para orientá-las e dar-lhes sentido. Volto então à idéia discutida inicialmente nesta seção, sobre os diversos sentidos que a categoria amizade pode adquirir dentro de um mesmo depoimento. Muitas vezes, quando perguntávamos se, por exemplo, as diferenças de condições sócio-econômicas afetavam as amizades, escutávamos como resposta “não, me dou bem com todo mundo” ou então, “tenho amizade por todo mundo”. “Todo mundo” aqui referia-se ao conjunto mais amplo dos colegas da universidade ou da academia de ginástica ou dos conhecidos de maneira geral – ou seja, um número maior e mais heterogêneo de pessoas. O uso da expressão “me dou bem” indicava um nível mais geral de relações, onde imperava uma cordialidade mas não necessariamente a intimidade, confiança e doação ao outro. De modo semelhante, “ter amizade” apontava para a presença do sentimento – carinho, afeto, simpatia – mas não da relação. Isto é, era possível “ter amizade” por todo mundo mas só “fazer amizade” com alguns poucos. Sintetizo esta questão com um trecho do depoimento de Marcos, um jovem estudante de psicologia branco:

P: O que é que você acha que pode influenciar na relação de amizade: religião, cor, idade? É diferente pra você a amizade com homem ou com mulher...

R: Não. De jeito nenhum. Nenhuma diferença. Conheço gente de todas as cores, assim, pessoas simples até. Nada muito ligado a essa coisa da classe da pessoa e sim pela empatia que você tem, pelo sentimento que você tem pela pessoa.

Aqui vemos um deslocamento entre pergunta – que indaga explicitamente sobre relações de amizade – para a resposta – que fala sobre conhecidos, e não amigos, por quem se pode ter sentimento.

Neste sentido, estes depoimentos ecoam visões clássicas da sociedade brasileira preconizadas por pensadores como Gilberto Freyre (1977) e Sérgio Buarque de Hollanda (1982), onde os diferentes convivem harmoniosamente. Ou então, como DaMatta (1978) afirma, operamos com múltiplos eixos classificatórios que ora separam, ora aproximam, demonstrando sempre a possibilidade e o desejo de estabelecer relações. De fato, nas entrevistas, as pessoas com freqüência afirmavam o afeto pelo outro antes de tecer críticas, mesmo em casos de rompimento, como se fosse difícil desfazer completamente as conexões. 

Ora, não havia problema em ter o sentimento de amizade por pessoas de classe, raça ou gênero distintos, o que não implicava em construir relações de amizade com elas. Aqui, chamo atenção aos lugares diferentes que cada uma destas marcas de distinção ocupa nesta narrativas sobre amizade. Se havia a percepção de que o traço do gênero diferenciava amigos, ainda que apenas ao tornar o outro atraente sexualmente, ele não separava homens e mulheres em termos de amizade. É preciso ressaltar que os jovens entrevistados sempre conviveram no colégio e na universidade com pessoas do sexo oposto e são filhos da geração que rompeu com os papéis tradicionais de gênero. O limite da amizade naquele momento, quando ninguém pensava em se casar mas apenas paquerar e namorar, era mesmo a erotização do amigo.[7]

Já o peso da diferença racial nas amizades suscitava maiores ambigüidades, que não eram particulares a estes jovens apenas. A começar pela terminologia, extensamente debatida pelas ciências sociais brasileiras (por exemplo, Maggie 1991, Pacheco 1986), os amigos próximos tendiam a ser classificados como “morenos” e não “negros”, diluindo assim uma oposição em uma gradação. Entre os jovens negros, com discursos altamente elaborados sobre suas identidades negras, havia pouca menção à cor dos amigos, que eram brancos e alunos de colégios e faculdades de segmentos médios. Entre estes amigos próximos, não havia sentimento de diferenciação ou discriminação por causa da cor. A diferença de cor parecia então ficar em segundo plano nas relações de amizade, contanto que elas não espelhassem também diferenças de condições sócio-econômicas.

O grande divisor de águas parecia ser portanto a diferença de classe social. Como ela implicava indiretamente nos estilos de vida e formas de pensar distintos, tornava-se assim mais difícil encontrar amigos com as mesmas afinidades vindos de classes sociais diferentes. Esta era uma questão particularmente enfatizada pelos entrevistados negros, para quem a necessidade de diferenciar cor de condição social era mais premente. Ou seja, negros mas não pobres, a identificação por classe era mais forte do que a racial quando a questão era a amizade.  Assim, “amigos mesmos” possuíam uma condição sócio-econômica semelhante enquanto que as relações com inferiores ou superiores socialmente podiam “ter amizade” mas não se transformavam nisto.

 

Narrativas de afinidades ou diferenças?

Os exemplos etnográficos analisados mostram formas diversas de articular marcas de distinção, como gênero, raça e classe, nas narrativas sobre amizade.  A própria noção de amizade deve ser vista não apenas como singular culturalmente mas também como contextualmente discursiva – elemento retórico indissociado do momento em que é expresso, para quem e em relação ao que é dito. Tomada como narrativa, o que não significa ignorar o plano da experiência, a amizade pode ser considerada como um espaço discursivo onde se entrelaçam idéias sobre relações e afastamentos pessoais e negociam-se a construção de identidades e alteridades. Neste sentido, vejo este tratamento em sintonia com a abordagem de Lutz e Abu-Lughod (1990) para o estudo de discursos emotivos, que, mais do que veículos expressivos, podem ser analisados como atos pragmáticos e performances comunicativas sobre sentimentos e uma gama enorme de outras questões sociais.

De modo semelhante, gênero, raça e classe deixam de ser consideradas como variáveis sociológicas com conceitos precisos para serem tomadas como noções que hoje circulam no senso comum mas com significados variados e distintos da literatura sociológica. Vimos que, em cada um dos casos analisados, estas categorias assumem sentidos diferentes, variando também internamente e assim revelando a negociação própria a cada contexto de afirmação. Para os ingleses estudados, gênero apontava para uma diferenciação entre homens e mulheres que às vezes tornava-se essencializada e envolvia toda a pessoa e em outros momentos era tomada como algo culturalmente construído e passível de desconstrução, afetando apenas parte da identidade pessoal. Para os entrevistados cariocas,  raça oscilava entre uma marca fenotípica – a cor – atrelada às condições sócio-econômicas e uma identidade negra elaborada sobre a ancestralidade e tradições culturais, dissociada da classe social. Esta por sua vez ora indicava apenas a situação financeira presente das pessoas, ora referia-se à bagagem de educação e cultura adquirida no convívio familiar e dos amigos.

Esta variação de sentidos destas categorias sugere também que as identificações criadas a partir delas não são essencializadas mas móveis e contextuais. Embora tanto raça quanto o gênero, ao contrário da classe, sejam noções que no ocidente moderno passaram a ser construídas com referência ao corpo (Stolcke 1991), ambos os casos etnográficos revelam processos de identificação em aberto, que ora se fixam em determinados pontos e situações, ora se diluem em outros (ver também Moore 1994, McCallum 1998). Assim, para os ingleses estudados, nas relações de amizade a identidade de gênero parece recobrir apenas parte da pessoa, de modo que amigos não se vêem ou pensam todo o tempo como homens e mulheres. De forma semelhante, entre os cariocas entrevistados, a cor também parece “desaparecer” nas relações de amizade, mesmo para aqueles que são extremamente conscientes de sua negritude e das desigualdades entre negros e brancos na sociedade brasileira.

Por outro lado, classe social adquire um espaço distinto em ambos os casos analisados, e talvez por isso seja a marca da diferença mais insidiosa e difícil de ser relevada na amizade. Apesar de não ter o corpo como referência, como acontece com o gênero e a raça, é a diferença de classe que parece ser mais essencializada, às vezes sendo mesmo incorporada como quando a cor espelha a condição social como na sociedade brasileira. É ela que afeta profundamente e desde cedo formas de pensar, de modo que pessoas de classes distintas dificilmente tornam-se amigas.

De formas diferentes, tanto a sociedade inglesa quanto a brasileira são fortemente estruturadas pelo eixo da classe social. Se no Brasil as desigualdades sociais – e também as  raciais – continuam extremamente acentuadas, na Inglaterra a diferença de condições concretas de vida entre as classes diminuiu drasticamente desde a Segunda Guerra Mundial, mantendo-se entretanto as distinções simbólicas de status. Talvez por isso, para os ingleses estudados, admitir a influência da classe na amizade seja tão difícil (e tão orientada para a origem e não para a situação presente), pois a proximidade entre as classes média e trabalhadoras já não justificaria um discurso acentuadamente hierárquico. Já entre os cariocas, que convivem com espaços sociais bem demarcados, há a aparência enganosa de relações irrestritas, quando o que ocorre é apenas a afirmação democrática do sentimento de amizade. Talvez por não se sentirem ameaçados em termos do lugar que ocupam, “ter amizade” por “todo mundo” torna-se um modo generoso de lidar com as pessoas em uma sociedade tão desigual, refletindo quiçá uma valorização de relações mais iguais.

 

Referências bibliográficas

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[1] Professora adjunta de Antropologia no Departamento de Ciências Sociais da UERJ. Além de artigos publicados em revistas brasileiras, escreveu o verbete Friendship para a Encyclopedia of Social and Cultural Anthropology (Routledge 1996) e colaborou com o ensaio “Building Affinity Through Friendship” para a coletânea The Anthropology of Friendship (Berg, no prelo). É co-organizadora com Yvonne Maggie do volume A Raça como Retórica: perspecitvas comparadas sobre raça e etnicidade (Record, no prelo).

[2]  Esta pesquisa encontra-se em fase de finalização. Ela resulta do projeto”Amizade e Hierarquia: Princípios Conflitantes?” que recebeu apoio do CNPq entre 1997 e 1999 e da UERJ através do Programa Pró-Ciência, a partir de 1997.

[3] A valorização ambígua das expressão das interioridade e das emoções seria segundo Lutz (198x) um traço mais amplo da cultura ocidental desde o romantismo.

[4]  Curiosamente, dentre as pessoas estudadas, apenas as mulheres e não os homens tinham esta abertura. Daqueles poucos que se envolveram com mulheres estrangeiras, suas preferências recaíram sobre americanas brancas. 

[5]  Discuto detalhadamente esta questão em outro artigo (Rezende, no prelo).

[6] Um grupo de entrevistados mais velhos, na faixa dos 40-50 anos, cujos depoimentos não estão sendo analisados aqui, vai enfatizar muito mais a intimidade estabelecida com os amigos bem como a idéia de ajuda recíproca. A questão da afinidade, por exemplo, aparece muito pouco.

[7] Entre os entrevistados mais velhos da pesquisa, a possível atração sexual pelo amigo do sexo oposto não foi colocada em nenhum momento dos depoimentos. Como algumas mulheres disseram, o amigo homem podia ajudar a lançar uma outra perspectiva sobre suas relações amorosas.